quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Avó leitora







Estávamos ainda no Estado Novo... a censura implantadíssima nos pontos mais recônditos do nosso Portugal.... e aparece o semanário Expresso... foi há 40 anos... eu tinha os meus 20... era uma jovem que lia livros, os recomendados e os proibidos (só porque o eram, tornavam-se ainda mais apetecíveis!...). Jornais? Para além do Diário de Coimbra, alcunhado regionalmente de "Calino" e os da tarde "Diário Popular", " A Capital" e "Diário de Lisboa" não me despertava interesse qualquer outro.
Surge o Expresso com uma frescura, novidade, muito sumarento, muito original... nessa altura, meu pai, já bastante debilitado, fazia uns tratamentos especiais, deveras desconfortáveis que exigiam a sua total e absoluta imobilidade; para lhe fazer companhia e o ajudar a suportar aquelas horas de suplício, lia-lhe o então recém chegado jornal, de ponta a ponta, que ele muito sábia e pedagogicamente ia comentando. Foi neste contexto que aprendi a gostar de ler jornais... o gosto pela leitura também se cultiva...
Na verdade, desde esses tempos, tem sido o meu semanário eleito... não obstante a minha preferência, não tenho a veleidade de o ler na íntegra... tenho as minhas páginas familiares, os meus opinadores favoritos, estou muito mais seletiva... e devo confessar que não gosto de notícias requentadas...  andar dias seguidos com o mesmo jornal?!..
Claro que, tal como a maioria dos seus leitores, o sábado é o dia de grande entrega à sua leitura…tornou-se um ritual…é com imensa expectativa que o vamos comprar, abrir, saboreá-lo olfativamente e finalmente ler.
O seu percurso tem sido notável. A sua enorme qualidade, a sua expressa imparcialidade tornaram-no numa referência insofismável, num verdadeiro símbolo. Parabéns ao Expresso e a todos os responsáveis pela sua excelência!...
Tenho esperança que os meus netos para quem agora leio tantas e tantas histórias, um dia, também eles sintam prazer em me fazer companhia e quem sabe me adormecer lendo-me um bom livro, o velhinho mas sempre conceituado Expresso ou uma simples história ou canção de embalar!... Não dizem que, em velhinhos, voltamos a ser crianças?!...